quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Candidato?

http://www.youtube.com/watch?v=d4bCeEKdVHk

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A vida ou a morte de uma empresa

3ª feira, 10/9/2013, ouvi da boca de um empresário, que gere uma empresa com cerca de 30 trabalhadores, e com boa posição no mercado, que pode encerrar portas se o Estado não lhe devolver – a breve prazo - cerca de €240.000,00, que reportam a devolução de IVA, e que espera há muitos meses. Mais dizia este empresário, que tem projectos a partir de Fevereiro/Março de 2014, que viabilizarão a empresa, mas se o Estado falhar nesta devolução, os mesmos ficarão sem efeito, porque nessa altura já encontrarão e empresa encerrada, caso o Estado não cumpra com a devolução do valor em causa. Ou seja, se o Estado pagar agora o que deve, o empresa será viável, terá pernas para andar, mas se o devedor, que é o Estado, não cumprir, a empresa encerrará portas e os 30 trabalhadores irão engrossar as filas dos centros de emprego. Ao ouvir esta história, lembrei-me do doente a quem não foi dado o medicamento para a cura, e acabou por morrer. Seria muito bom que o Estado enviasse o medicamento ao doente.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Paulo Portas em 1993 - eu disse isso?

São conhecidas várias frases (mais ou menos) populares que nos dizem muita coisa, e uma delas é "em política nunca digas nunca", e outra é "nunca digas dessa água não beberei". Descobri hoje declarações de Paulo Portas feitas em 1993, num programa com Herman José, Zita Seabra e outros, em que diz "no dia em que um amigo meu chegar ao poder, eu passo-me para a oposição". Acontece que desde há anos Paulo Portas não só tem amigos no poder como o próprio também lá está. Estas declarações poderiam ter sido evitadas? Claro que podiam. Paulo Portas, para ser coerente, poderia ter evitado ir para o poder? Claro que podia. Mas não fez nada disso, antes pelo contrário, disse e fez o que melhor lhe apeteceu em cada momento.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Será que Paulo Portas vai cumprir o que diz?

No seguimento do pedido de demissão que o ministro das finanças Vítor Gaspar apresentou ao primeiro-ministro Passos Coelho, também Paulo Portas seguiu o mesmo caminho, embora com argumentos e motivos diferentes – o primeiro porque chegou à conclusão que as premissas tidas como correctas para ultrapassar a crise, estavam – afinal – todas erradas, e o segundo invocou “imperativos de consciência” para tomar a sua decisão “irrevogável”, acrescentando que tem sido ignorado por Passos Coelho. Como hoje já se sabe, esta palavra - talvez de acordo com algum novo acordo ortográfico - passou a ter validade de cerca duas semanas, com ganho acrescentado de mais pastas no poder por parte do CDS/PP. Paulo Portas tem em cima da mesa mais um teste à sua “palavra dada”, e que se relaciona com a penalização sobre o corte de 10% nas pensões da CGA. Ou seja, em Maio passado, o então ministro dos negócios estrangeiros, declarou que “esta é a fronteira que não posso deixar passar”. Agora só resta esperar para ver se o teor dessas declarações são irrevogáveis, ou se têm o mesmo valor do que foi escrito no recente pedido de demissão. Dinis Evangelista

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

É bom envelhecer

Não é mau enve­lhe­cer, mas há uma coisa: mesmo enve­lhe­cendo, deve­mos con­ti­nuar a ser cri­an­ças. Como diria alguém, há sem­pre uma cri­ança den­tro de nós, inde­pen­den­te­mente da nossa idade — e quando isso não acon­tece, é mau. É muito impor­tante que, quando cri­an­ças, como em adul­tos, pos­sa­mos viver uma vida feliz, mas infe­liz­mente — bem o sabe­mos — isso não acon­tece com todas as pes­soas: uns pela pobreza extrema, outros devido a guer­ras, e outros pelas duas razões, não são feli­zes em cri­an­ças nem quando adul­tos. A cri­ança é feliz quando brinca, vive e cresce num meio social des­pre­o­cu­pada, com suporte fami­liar que lhe pro­por­ci­ona essas pequenas/grandes coi­sas. O adulto que olha para as cri­an­ças des­pre­o­cu­pa­das e feli­zes, é tam­bém feliz, se pen­sar que está a ter um enve­lhe­ci­mento com qua­li­dade, que não está depen­dente, que tem matu­ri­dade, raci­o­ci­nios e inde­pen­dên­cia eco­nó­mica. E tem uma cer­teza: teve a sorte de enve­lhe­cer, o que poderá não acon­te­cer quando se é ainda cri­ança ou jovem. Mas há mais feli­zes e menos feli­zes: na pas­sada semana ouvi a uma cri­ança com cerca de 10 anos que só con­se­guiu ador­me­cer quase às 7 da manhã. Sei que esta cri­ança vive num qua­dro fami­liar em que não se sente feliz, e digo para comigo: isto não é nada bom, esta cri­ança está a pas­sar ao lado da vida. Ter­mino, dizendo que me sinto bem, a cami­nho dos 63; gosto de ter esta idade e sinto-me bem com ela. É bom che­gar a esta fase da vida e ter auto­no­mia e inde­pe­dên­cia, via­jar, conhe­cer o nosso país, conhe­cer outros paí­ses, povos e gen­tes, ler, ver cinema, tea­tro e fute­bol. Falar com os outros, tro­car ideias, con­cor­dar, dis­cor­dar, tenar enten­der o mundo que me rodeia. E não ter reli­gião, sobre­tudo isso, não ter nem sen­tir falta de qual­quer religião.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Passos Coelho e o seu duplo

O primeiro ministro Passos Coelho declarou este fim de semana que "não quer aumento de impostos" e que "a economia não se recupera aumentando impostos". Tendo em conta que os impostos sofreram forte agravamento desde que este governo tomou posse, estas declarações não deixam de ser caricatas, ou mesmo ridículas, para não dizer cómicas. Ou será que Passos Coelho é ele e o seu duplo? Ou seja, por um lado aumenta os impostos, mas por outro discorda. Ocorre-me uma rábula de revista, tão bem protagonizada por Ivone Silva, sobre a contradição que havia entre a Olívia costureira e a Olívia patroa. Ou seja, será que Passos Coelho concorda e discorda de Passos Coelho? Será que Passos Coelho está contra a política de impostos de Passos Coelho? Seja como for, e não obstante haver cada vez mais portugueses a discordarem do aumento de impostos deste governo liderado por Passos Coelho, estou em crer que também Passos Coelho venha um dia destes a insurgir-se - quiçá na rua - contra o aumento de impostos decretado pelo governo de Passos Coelho.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Aquilino Ribeiro: o mundo inteiro na sua aldeia Raquel Ribeiro, Público, 21/07/2013 Nas Terras do Demo descobrimos a geografia sentimental de Aquilino Ribeiro. É a casa modesta de um escritor culto, preso durante o republicanismo, exilado em Paris e Berlim, mas cuja literatura viveu sempre nesta aldeia beirã Diz-se que Aquilino Ribeiro é um escritor difícil. Há quem tenha começado um livro seu, resistido e desistido. Já não está nos programas de Português desde os anos 80 apesar de ter sido um dos escritores mais populares do seu tempo. Lê-lo, hoje, só acompanhado de dicionário para as "palavras difíceis", tal a quantidade de regionalismos, léxico popular, linguajar e ladainhas da Beira, paisagem humana da sua literatura. Não é barroco ou extravagante. Pelo contrário: etnólogo, naturalista, cronista, capta o potencial fenomenológico da língua. A riqueza do léxico está na novidade com que retrata o mundo rural que, disse o ensaísta Eduardo Lourenço, "não estaria apenas no olhar quase etnográfico que será o seu acerca da realidade beirã em que ele mesmo enraíza, mas na textura verbal igualmente mimética, tradutora, com a mais crua fidelidade, do falar serrano". Aquilino dizia: "A madre é na aldeia; ali está o puro idioma." É na aldeia que está a sua Casa-Museu, Fundação Aquilino Ribeiro criada em 1988 pelo filho mais velho do escritor, Aníbal. Lugar de Soutosa, Moimenta da Beira, Viseu. Segundo Aquilino, no coração das Terras do Demo (romance de 1919). São "do demo" porque por aqui "nem Cristo" "nem el-Rei" passaram. É terra brava, agreste, esquecida de Deus, "penedia, aldeias tristes e obtusas, pinhais, uma impressão de tormento telúrico" (Geografia Sentimental, 1951). Onde os homens e os bichos são como irmãos, onde faunos, demos e gentes das fábulas se cruzam com o beirão, "camponeses, almocreves e outros tipos esmagados na base da pirâmide social, contra todas as opressões que lhes tolhem os impulsos vitais" - figuras da sua obra (segundo Óscar Lopes e António José Saraiva). "O homem das serras traz chumbado ao tornozelo todos os grilhões da servidão forjados nos tempos bárbaros. Passam os reinados, as vagas políticas de democracia e de emancipação social, e ele queda escravo, miserável, para seu bem, não tendo conceito algum da igualdade humana", escreveu Aquilino. O cheiro das tílias Chega-se por estradas impiedosas, curva e contracurva, recta com limite de velocidade, subindo e descendo a serra e contornando o penedo, "lanços perigosos e ziguezagues mortais" (Aquilino), agora rasgadas pelas rotundas do desenvolvimento. Percebe-se por que escreve que, apesar da distância, da imensidão da paisagem, da presença da Estrela nevada, aqui era o centro de tudo: "Estas viagens eram até certo ponto o ersatz do caminho marítimo para a Índia. Largava-se de Viseu com a tardinha e era emocional como despedir-se um homem para o cabo do mundo." A casa está como quando o escritor a habitou. Humilde, modesta, de pedra, ainda a mesma estrutura de madeira escura, do seu tempo. Aquilino nasceu em Sernancelhe em 1885, filho de padre. A mãe, camponesa, trouxe-o para esta casa em Soutosa aos dez anos. Aqui cresceu até estudar em Lamego, depois em Viseu, e depois em Beja, no seminário, de onde foi expulso "por falta de vocação". Em 1906 vai para Lisboa. Mas, na verdade, desta aldeia nunca mais saiu. Não era ainda o romancista que, no furor do republicanismo, começa a escrever em jornais e que em 1907 é preso após a explosão de uma bomba no seu quarto. Consegue fugir da prisão e refugia-se em Paris em 1908, meses depois do regicídio de D. Carlos, em que se suspeita que Aquilino Ribeiro estivesse envolvido (não directamente, mas conhecia o plano dos assassinos). Estudou na Sorbonne, onde conheceu Grete Tiedemann, alemã, com quem casaria em 1913. Mas o começo da I Guerra Mundial obrigou o escritor, a mulher e o filho recém-nascido, Aníbal, a regressar a Portugal. As primeiras publicações, Jardim das Tormentas (prefácio de Carlos Malheiro Dias) sai em 1914 e Via Sinuosa em 1918. Seguem-se Terras do Demo (1919) e Malhadinhas (1922). Em 1924 publica o clássico infantil O Romance da Raposa, hoje talvez o único texto seu lido em algumas escolas do concelho de Moimenta da Beira. Em 1921, enquanto director da Biblioteca Nacional, participou no lançamento da revista Seara Nova, dirigida por Raul Proença, onde colaboraram Jaime Cortesão, António Sérgio, Raul Brandão ou Augusto Casimiro. A revista de crítica e intervenção pretendia "contribuir para formar, acima das pátrias, a união de todas as pátrias - uma consciência internacional bastante forte para não permitir novas lutas fratricidas". A revista resistiu durante o Estado Novo, enfrentou a censura e, apesar da irregularidade das publicações, foi sempre símbolo de oposição ao regime. A Soutosa, Aquilino Ribeiro regressava todos os Verões e aí escrevia em comunhão com a natureza. "Quando me instalo na aldeia - e nunca será para menos do que os três meses de Verão - hei-de levantar-me infalivelmente com a alba", disse. A propriedade, de cerca de três hectares, está como a deixou (apesar de agora não ser cultivada): as figueiras "com grandes folhas esparramadas em jeito de esperar outra vez Adão e Eva", a uva moscatel que "tão biblicamente cobre o poço a dois passos da cozinha". Ao centro, as grandes árvores de tília que "recobrem de sombras e perfume" a entrada da casa foram plantadas pelo escritor. "Ano por ano as fui acalentando e tutelando. Por isso, quando arribo de Lisboa, recebem-me luxuriantes, sonoras das abelhas que lhe chupam o pólen." O escritor chegava em Junho quando migravam os cucos que lhe recordavam que "estão a findar os meus ócios e também eu tenho de me separar das aves que são sedentárias, das minhas árvores". Regressar a Soutosa era voltar ao espaço bucólico de pertença. Conclui o escritor em Geografia Sentimental, revelando a sua proximidade com a natureza: "A visita matinal que faço a estas queridas e prosaicas coisas, com as rolas a ensaiar, após a traviata sobre o pinhal, suas sarabandas de amor, trocando o bom-dia com os jornaleiros, vale uma volta pelo Chiado ao cair da tarde." Grete morre em Soutosa em 1927. Procurado por participar numa revolta contra a Ditadura Militar, Aquilino refugiara-se na Beira. Envolve-se na sublevação do Regimento de Pinhel contra o novo Governo, mas é preso. Conseguindo novamente fugir, exila-se em Paris em 1928. Casa uma segunda vez, com Jerónima Dantas Machado, filha do ex-Presidente Bernardino Machado (terceiro e oitavo Presidente da primeira República), que também vivia no exílio (e de quem teve um segundo filho). Na Fundação Aquilino Ribeiro, há pouca informação sobre esta fase da vida de Aquilino, a mesma em que, anos depois, escreverá as suas obras mais populares, A Casa Grande de Romarigães (1957) e Quando os Lobos Uivam (1958), apreendido pela censura e mais tarde amnistiado, num processo que durou mais de dois anos. A casa de Romarigães, solar dos "Menezes e Montenegros", pertencia à família de Jerónima Machado, em Paredes de Coura, Minho. No prefácio, Aquilino explica como resolveu contar a história de Portugal através desta grande casa, parte em ruínas, quando nela encontrou manuscritos e correspondência de 1680 a 1828 entre antigos habitantes da casa. Decidiu continuar a contar a história. Por isso, "as últimas e extravagantes páginas do livro são da minha lavra. Às outras, sacudi o bolor do tempo e reatei o fio de Ariadna". Na casa de Aquilino há muitas fotografias da primeira mulher, Grete, mãe de Aníbal (mas não da segunda). Ali estão os seus óculos, os seus livros, muita arte, como o retrato que Abel Manta lhe pintou, agora no seu quarto reconstituído - modesto, uma cama de ferro branco e uma cómoda com fotografias. Há pinturas de Amadeo Souza-Cardoso, escultura de Anjos Teixeira, caricaturas de Santana e de Stuart Carvalhais. Há correspondência de Óscar Lopes, Teixeira de Pascoaes e ainda um postal de Beatriz Costa com o seguinte destinatário: Aquilino Ribeiro. Morada: Brasileira do Chiado. No escritório está uma pequena parte da sua biblioteca - a restante, cerca de 8 mil volumes, está numa sala anexa à Casa do Caseiro, reconstruída na propriedade, que apresenta um museu etnográfico sobre "o aldeão da Beira". O espólio pessoal do escritor, que morreu em 1963, está em depósito na Biblioteca Nacional. A secretária veio de Santo Amaro de Oeiras, onde vivia. À época, custou 1100 escudos. Aqui escrevia a sua "aldeia mítica onde são tão presentes os homens e a vida ancestral do nosso povo como os seres de fábula ou memória, faunos ou santos da sua particular legenda", como escreveu Eduardo Lourenço numa edição especial da Colóquio-Letras (1985) dedicada ao escritor. O seu mundo não é o do "refinado Eça", por quem "fez sempre gala em se definir por oposição", explica Lourenço. A sua êxtase perante o mundo rural não é a de Fradique ou de Jacinto, continua: ele era o "artista rude, filho da minha serra" que retrata nessa "aldeia-memória" o mundo "primitivo" e "bárbaro", "à margem da civilização". Continua a não ser lido. Continua a dizer-se que é difícil. E de resistência em resistência, também a sua casa, isolada em Soutosa, Moimenta da Beira, parece esquecida. Daí que a Fundação esteja a trabalhar para se abrir aos visitantes: uma nova loja na casa vende vinho da região da cooperativa de Távora-Varosa, espumante "Terras do Demo" que adoptou textos de Aquilino no rótulo, e outros vinhos. Aí se vendem também algumas edições dos livros que a Bertrand tem vindo a reeditar, e o recente Guia das Aves, antologia de excertos aquilinianos nos quais se descrevem mais de 60 aves selvagens (edição da Boca). Aquilino tinha "extraordinárias faculdades inatas para tirar partido da expressividade sensorial do idioma"; a sua linguagem é tão rica, de "graça idiomática" que na literatura portuguesa "é a mais exuberante de Camilo para cá" (dizem Lopes e Saraiva). É aliás sobre Camilo Castelo Branco a biografia romanceada Romance de Camilo (1956), história do "filho do Senhor Manuel Botelho e da sua criada Jacinta Rosa". Mas não se pense que, apesar de existir um Glossário Sucinto para Melhor Compreensão de Aquilino Ribeiro (de Elviro Rocha Gomes, 1930), a obra de Aquilino se possa resumir à de um escritor regionalista. Para Óscar Lopes, Aquilino deverá ser lido ao lado os seus contemporâneos: Raul Brandão, Camilo Pessanha e Fernando Pessoa. A sua literatura é de "rompimento com a sensibilidade literária anterior". Cada um à sua maneira, "dão-se conta de que já não acreditam naquilo em que em 1913 julgavam acreditar monárquicos ou republicanos, católicos ou positivistas". Mas apesar de ser contemporâneo da Geração de Orpheu, com quem conviveu (Almada Negreiros e Mário de Sá-Carneiro) em Paris, nas vésperas da I Guerra Mundial, Aquilino Ribeiro acabou por ser, segundo Óscar Lopes, ofuscado por Pessoa e esquecido pela "consagração do Modernismo" da crítica.